Revistas Eróticas e Atentados de Extrema-Direita: Um Capítulo da Ditadura Brasileira

Kinasta Elphine
Kinasta Elphine
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Durante a ditadura militar no Brasil, a sociedade viveu uma série de tensões e conflitos que se manifestaram de diversas formas, incluindo atentados terroristas promovidos por grupos de extrema-direita. Um dos alvos desses ataques foram as bancas de jornais, que vendiam tantas publicações alternativas quanto revistas eróticas. A música “Faroeste Caboclo”, da banda Legião Urbana, faz referência a esses eventos, destacando a violência e a censura da época.

A letra de “Faroeste Caboclo”, composta por Renato Russo em 1979, menciona diretamente a prática de “botar bomba em banca de jornal”, uma alusão aos atentados que visavam impedir a circulação de ideias consideradas subversivas. Esses ataques foram um acontecimento ao temor de que a abertura política pudesse favorecer a ascensão do comunismo no país, uma preocupação central para os grupos conservadores e militares.

Os atendidos não se limitaram a publicações de cunho político. As bancas de jornais também eram visadas para comercializarem revistas secundárias eróticas, que, os extremistas, contribuíam para a manipulação moral da sociedade. Durante os anos 1970, o Brasil viu uma explosão no número de publicações desse gênero, com títulos como Playboy e Ele & Ela vendendo milhões de exemplares mensalmente.

A censura moral, que já existia antes da ditadura, foi intensificada durante o regime militar, com apoio de setores conservadores da sociedade. Cartas de pais e associações religiosas ao Ministério da Justiça pediam medidas contra a venda de revistas eróticas, alegando que estas promoviam imoralidade e constrangimento público.

Grupos de extrema-direita, como o Comando de Caça aos Comunistas (CCC), associavam a pornografia ao comunismo, argumentando que a abertura política permitia a disseminação de ideias subversivas. Em suas ameaças, esses grupos anunciaram jornaleiros sobre a venda de material considerado indecente, tentando convencê-los a cessar a distribuição.

A resposta do Estado aos atentados foi, paradoxalmente, intensificar a repressão contra as próprias bancas de jornais, em vez de punir os responsáveis ​​pelos ataques. A Polícia Federal e outras autoridades realizaram apreensões de revistas e prenderam jornais, sob a acusação de promoverem obscenidade.

O caso da revista Privê , que foi acusada de violar a Lei de Segurança Nacional por parodiar símbolos nacionais em um ensaio fotográfico, exemplifica a interseção entre moralidade e política durante a ditadura. A publicação foi vista como uma afronta aos valores patrióticos defendidos pelos militares, resultando em sua apreensão e em processos judiciais contra seus editores.

Apesar das ameaças e da repressão, as revistas eróticas continuaram a circular, sustentadas pelo lucro significativo que geraram para os bancos. A resistência dos jornaleiros em cessar a venda dessas publicações, mesmo sob risco de ataques, destaca a complexidade das forças em jogo durante esse período conturbado da história brasileira.

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